Peitoral, pela saúde do cão!

Foto: Dior e Prada à espera para ir passear!

Quando vivemos com cães pelo companheirismo, amizade e lealdade, queremos o seu bem estar físico e psicológico e geralmente sentimos orgulho em tomar conta dos nossos amados cães.
Eu costumava passear os cães com uma trela clipada a um colar até ser confrontada por alguém que sugeriu usar um peitoral para prevenir lesões no pescoço. Apesar de este tipo de confronto não ser fácil de aceitar, porque eu tenho imenso cuidado com o bem-estar dos meus cães, fiquei curiosa. Depois de fazer alguma pesquisa sobre o tema, uso apenas peitorais e faz-me alguma confusão ver tutores a usar colares nos seus cães!
Neste artigo vou tentar convencer-vos de que um colar não é a melhor opção para a qualidade de vida nem para o ser bem estar físico do cão.


Pode ser perigoso colocar uma trela no pescoço de um cão?

Clipar uma trela ao colar de um cão pode causar danos físicos ao cão se o cão puxar ou for puxado pela trela. O pescoço do cão tem uma fisiologia muito importante e delicada que mantém o cão saudável. A glândula tiróide, por exemplo, está na parte frontal do pescoço, abaixo da laringe. Um pequeno incidente ao puxar pelo colar pode causar danos muitos graves na saúde do cão. Alguns dos perigos de usar um colar são:

Lesões no pescoço
Puxar ou correr rápido até esticar a trela pode causar lesões sérias no pescoço. Lesões no pescoço incluem nódoas negras, dores de cabeça, traqueia esmagada, danos na laringe e vértebras fracturadas. Uma lesão no pescoço ou na coluna vertebral pode causar paralisia ou problemas neurológicos.

Um estudo feito por Anders Hallgren a 400 cães e publicado em Animal Behaviour Consultants Newsletter em 1992, mostrou que puxar na trela ou sofrer esticões na trela (quando o humano dá um esticão na trela para “corrigir” o cão) afectam o pescoço e a garganta do cão. Uma das correlações mais fortes em todo o estudo encontrou-se entre lesões cervicais (pescoço) e puxar na trela/sofrer esticões. 91% dos cães com lesões no pescoço tinham sido expostos a esticões na trela pelo tutor ou tinham puxado na trela com força durante longos períodos de tempo. Brincar é inofensivo para a coluna mas é essencial aquecer primeiro. Cães que correm com frequência, brincam com outros cães, saltam de felicidade ou saltam obstáculos, não foram relacionados com problemas de coluna. Contudo, os cães devem receber uma massagem ou a oportunidade de aquecer antes de actividades enérgicas, sejam as actividades tug-of-war, agilidade ou caça!

Problemas comportamentais
É geralmente aceite que para todos os animais o comportamento está associado à saúde. No estudo de Anders Hallgren foram encontradas grandes correlações entre lesões, doença ou dores e comportamento, ou seja, este estudo mostra que a saúde física e problemas comportamentais estão relacionados. Segundo este estudo, a origem mais comum de dor ou doença que levam a problemas comportamentais são lesões nos músculos ou ossos. Entre os 400 cães estudados, 79% dos cães agressivos tinham problemas nas costas e 69% dos cães inseguros tinham problemas nas costas (o estudo refere-se apenas a problemas nas costas e outros problemas se saúde não são tidos em consideração).

Problemas nos ouvidos e olhos
Num outro estudo publicado no Jornal da Associação Americana de Hospitais Animais mostrou fortes indícios que a aplicação de pressão no pescoço por um colar pode aumentar significativamente a pressão intra-ocular nos cães. Esta pressão intra-ocular pode causar lesões sérias em cães que já sofram de córneas finas, glaucoma ou ferimentos nos olhos. Peter Dobias menciona num artigo que problemas nos olhos e ouvidos estão frequentemente relacionados com puxar na trela. Quando o cão puxa ou é puxado, o colar limita o fluxo sanguíneo e linfático para e da cabeça.

Hipotiroidismo
O colar fica no pescoço na zona da glândula tiróide. Como Peter Dobias diz no seu artigo, esta glândula é severamente traumatizada sempre que um cão puxa na trela, fica inflamada e é consequentemente “destruída” pelo sistema imunitário quando tenta remover as células inflamadas. A destruição das células da tiróide leva a um défice das hormonas da tiróide - hipotiroidismo. Os sintomas podem ser pouca energia, ganho de peso, problemas de pele, perda de pêlo, tendência a infecções nos ouvidos e falência de órgãos.

Problemas do sistema nervoso e nos membros dianteiros
Este é outro problema que Peter Dobias menciona - excessivo lamber de patas e coxear das pernas dianteiras (braços) podem estar relacionados com o uso de colares. Puxar na trela afecta os nervos ligados às patas dianteiras. Isto pode levar a uma sensação anormal nas patas do cão e o cão pode começar a lamber mais as patas. É frequente estes cães serem diagnosticados com problemas alérgicos quando tudo é causado pelo colar.

Se causa danos no seu pescoço, porquê que o cão continua a puxar?

Os cães não são humanos e o seu comportamento é diferente do nosso. Para o homem seria senso comum parar quando se esgana. Contudo, não podemos prever o comportamento canino com base no nosso comportamento. Ás vezes vejo cães a caminhar apenas com as pernas traseiras, com todo o seu peso colocado à frente, no colar, para chegar a algum lado. Já vi a puxar tanto que ficam ofegantes ou que nem conseguem respirar. Também já vi pessoas que puxam a trela dos cães de forma a que todo o cão é levantado no ar pelo pescoço e assim que o cão volta a pousar no chão, puxa na trela para chegar onde queria.
Já li sobre cães que perseguem uma bola ou ovelhas até morrerem por sobre-aquecimento, sobre cães que partem os dentes a tentar passar por uma cerca ou crate e sobre cães que arrancaram as unhas de tanto arranhar a porta quando deixados sozinhos por 5 minutos.
Os cães não mostram nem reagem a ferimentos como nós.

Como é que podemos saber o que o cão está a sentir? Podemos medir dor ou sofrimento?

Não há qualquer forma fiável para medir sofrimento ou dor nos animais (nem sequer humanos!). A forma mais comum de “medir” dor ou sofrimento em humanos é através de comunicação verbal. Imagens de ressonância magnética do cérebro podem dar uma ideia de como os outros se sentem. Foi já demonstrado que os níveis de cortisol ou nível de hormonas de stress são demasiado imprevisíveis para serem considerados fiáveis. Neste momento não há nenhuma forma científica para deduzir as implicações psicológicas de usar um colar. Tudo o que se sabe é que o comportamento pode ser afetado pela saúde física do cão.

Como é que castigo o meu cão quando ele puxa?

Ao invés de castigar o cão quando puxa na trela, deve reforçar o cão quando caminha ao seu lado e ele assim vai aprender que caminhar ao lado do tutor ”compensa”.  Quando o cão puxar na trela, pode “punir” ao parar de caminhar e isso vai ensinar ao cão que se puxar o tutor pára e o cão não chega onde quer! Não há qualquer necessidade de intimidar ou magoar o cão para o ensinar a caminhar ao seu lado. Puxar na trela pode também ser causado por medo, ansiedade ou excitação e nestes casos temos que trabalhar com aquilo que causa o puxar na trela.

Mas o meu cão nunca puxa na trela…

Pessoalmente não conheço nenhum cão que nunca puxe. Mesmo que exista, o tutor pode ser confrontado com uma situação em que tem que puxar o cão para evitar um acidente… Se seriamos incapazes de clipar uma trela a um colar numa criança para a manter segura, porquê que o fazemos aos nossos fiéis companheiros ao invés de usar um peitoral?!

Mas os peitorais fazem os cães puxar…

Os tutores que se deixam puxar pelos cães que usam peitorais é que fazem os cães puxar. Quando os cães usam um peitoral são capazes de puxar com mais força do que usando um colar, é verdade. Mas o que faz o cão é puxar é o tutor reforçar o comportamento ao deixar que o cão o puxe e chegue mais rápido onde quer ir.
Há vários peitorais no mercado, incluindo peitorais específicos para cães muito fortes. Peitorais de clipar à frente fazem com que o cão que puxe se reoriente automaticamente para o tutor.
Escolha um peitoral adequado ao seu cão, com um bom ajuste e que distribua o peso de forma equilibrada e não faça toda a pressão apenas numa pequena área.


Conclusão

Se “humano” é definido como ter consideração pela saúde e bem-estar dos outros, então clipar uma trela a um colar não é uma prática tão humana como clipar uma trela a um peitoral. O cão deve ser treinado a caminhar com o tutor e o peitoral e trela devem ser apenas usados para segurança e não parar impedir o cão de desaparecer. Treinar o cão é uma excelente forma de interagir e criar ligações fortes entre tutor e cão.




Este artigo é uma tradução com ligeiras adaptações feita por Bruna Oliveira. O artigo original é de Emily Larlham.

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